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  • Foto do escritor: Álvaro Figueiró
    Álvaro Figueiró
  • 5 de jul. de 2024
  • 3 min de leitura

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– Pô, cês têm de ir, pô!

Artur William, dito Szafir, dá uma pro Andrei, uma pro Tadeu, uma pra mim, uma pra cada.

– Vai ser em Bangu. É pertinho.

Andrei coça a cabeleira, eu torço a lapela, Tadeu franze a testa.

– Santa Cruz não é perto de nada – geografo pro Tadeu, morador de Santa Cruz.

À direita, a porta dos banheiros, o masculino sempre empapuçando caixas rasgadas pelo chão – água, mijo, mofo, lama. À esquerda, um bebedouro, não dos melhores, não dos piores, o nosso.

– Que viado cagão arrombado! Deu uma chilena!

– Sábado agora.

– Ô animal, o trunfo é kh♥phas!

Na “filipeta” um candango sorri todo creme dental.

– Vinte! Vai sair vinte! Vai sair! Vaiiiiiii...

Artur William veste uma camiseta estrelada proclamando brancoazulvermelho BENEDITA GOVERNADORA.

– Porra! Tá de sacanagem! HUM! HUM!

HUolhM!o para os bancos sob o Bloco E. Semitreva.

– E aí, Golden? Bora, Andrei?

– Vfff... – Andrei chupa o ar e xuxa o cabelo. – É longe.

– Pra tu tudo é longe, menino-da-bolha.

Andrei mora virou a esquina, uma, duas quadras.

– Acorda, Goldinho! Tá no stand-by?

– Bora – confirmo. – Tu vai, Szafir?

Então sábado, nublado, abafado, veranico, vou pro tal, o tal da “filipeta”, quer dizer, santinho, o comitê rega-bofe maneiro Gilberto Palmares inauguração Bangu contamos com você a união faz a força justiça social. Pelas 15:30, vou andando rumo à rodoviária de Campo Grande junto meu pai.

– E então? O que tu vai fazer da vida?

– Isso agora não me interessa...

– Tem de fazer dinheiro cedo. Não dá pra perder tempo.

Completo três, quatro circuitos na rodoviária de Campo Grande, nublado abafado veranico. Enfim, Tadeu. Veio lá de Santa Cruz, longe de tudo, até de Paciência, aonde o trem já chega cansado.

Pegamos micrônibus para Bangu. Na Avenida Santa Cruz, construíram ciclovia sobre o fiapo que se pretendia calçada. Os postes ficam ora na faixa da direita, ora na da esquerda. O ciclista tem de andar em zigue-zague.

Ponto final, andamos pelas quadraturas de Bangu, lado capitalista.

Opa, taí o comitê.

É?

É: uma caminhonete troa música de campanha. 

Bandeirolas plásticas sobre muro de chapisco, portãozão aberto, quintalejo de terra batida, galpão recoberto de zinco. Papeio coroama, mor intimidade. Uma mulher revolve um panelão. Só falta o vira-lata dormindo ao lado da tigela de angu em sonho de anjinhos de galinha pra completar a ambiência tradicional família churrasqueira.

Eu e Tadeu registramos a cena que nem satélite espião. Passamos varados sobre o lixo sideral da calçada e logo estaríamos pela altura de α Centauri, quer dizer, chegando a Santa Cruz, não fosse a atração gravitacional dela, a dúvida. Voltamos. As primeiras impressões enganam,

Papeio coroama, mor intimidade. Aqui todo mundo literalmente vota no Lula desde 1989. A mulher continua revolvendo o panelão, que nem tá com cara de ser feijão – arroz e sem colorau. Só continua faltando o vira-lata dormindo do lado da tigela de angu com o sono perturbado pelo desejo e pelas moscas.

mas só muito às vezes.

Ficamos plantados no portão olhando pro quintal tipo criança que acordou no meio da noite e está estranhando os roncos e os tapas que vêm do quarto dos pais.

– Será que o Artur William vem? Ele disse?

– Sei lá. Bora esperar um cadinho.

Szafir insistiu que, além de maneiro, era rega-bofe. A fome começa a apertar.

Foda-se ‘ssa porra. Bora ralar peito.

– É por isso que o PT não ganha eleição – sociologizei. – Quanto você acha que eles investiram ali? Uns quinhentos reais! Pô, parecia mais reunião de família.

– Todo mundo se conhecia. Ia ser muita cara-de-pau a gente entrar. Gilberto Palmares decepcionou. Quantas pessoas tinha?

– Umas trinta.

– Que isso! É muito.

– Então, devia ser umas vinte.

– É. Pô, dava pra identificar claramente os grupos.

– Um aqui fora fumando, outro lá dentro.

– E tinha uma mulé cozinhando num panelão.

Vinte minutos no ponto de ônibus, pegamos um meio lotado pacas de volta para Campo Grande.

– Pelo menos só veio a gente – atenuei. – Imagina se vem o Andrei?

– Ia sair lá da Tijuca pra nada.

– E olha que eu tava enchendo o saco do Marcelo e do Alexandre pra virem. Tu não deixou de ir lá em Nilópolis por causa do comitê do Gilberto Palmares, né?

– Não. Quer dizer, foi um agravante. Ia ficar difícil pra voltar de manhãzinha. Também eram essas festas clubers.

Não entramos no estágio terminal da inanição, temos ainda a força de ter fome.

– Bora comer pitsa!

– Esfirra! Habib’s.

– West Shopping?

– West Shopping!

– Bora!

– Bora!

Conferimos nossos dobrões, pérolas, lingotes e rubis. Juntando, mal dá pra pagar a passagem de cada um.

– Xi....

– Babou...

ssm trmn sbd.

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