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E Ai eiou o áao

  • Foto do escritor: Álvaro Figueiró
    Álvaro Figueiró
  • 6 de jul. de 2024
  • 8 min de leitura

Atualizado: 8 de jul. de 2024


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– HUM! HUM!

HUolhM!o para os bancos mil-folhas sob o Bloco E. As pernas da Melina naquela semitreva, sueca, Magic, papo-furado, não agora, antes, sainha djins, lembro desejo, ela não está lá. A primeira vez, muito tempo já, outubro de 2001, quase um ano, greve marrô, a primeira vez quando notei suas coxas numa aula de eletromagnetismo foi ferromagnético. Não bonita, meio enjoada, talvez, tijucana, Pedro II, boca larga Lango Lango, mas as pernas, as pernas, as coxas, os tornozelos as coxasaspernas. As coxas morenas na sainha djins.

As coxas

– Acorda, Goldinho!

e o cabelão.

– Tá no stand-by?

– Bora – confirmo. – Tu vai, Szafir?

✒ A resposta foi suficientemente evasiva para não poder ser reconstruída wie es eigentlich gewesen ist, recordando ao público leigo que esta obra de micro-história social é fruto do labor meticuloso dum profissional pago pelo Reino da Prússia-em-Guanabara a partir da mais rigorosa crítica das fontes, a saber o diário de Álvaro Figueiró (24/06/2002) e o testemunho oral telepático do retromencionado Figueiró. Da mesma forma, a citação da para fins estilísticos dita filipeta não se pode fazer em função da perda ou, por que não?, da perca do documento imagético-textual, cujo caráter estereotipado, contudo, enseja a seguinte reconstrução:

 

O candidato a deputado federal

Gilberto Palmares

convida para a

inauguração

do seu comitê eleitoral em Bangu.

R. Três Estrelinhas, Nº ***

24 de junho (sábado)

17:00

 

Isso tudo em péssima diagramação em papel-cuchê, documento imagético-textual nativamente conhecido como “santinho”.

E o cabelão brilhosão quase preto com as coxas morenas. Antipática, nojentinha meio, sei lá, tijucana. Paudurescência imediata. ✒ Nada demais aos dezesseis/dezessete.

Sara, essa louríssima de cabelos anelados, adormecida anos 80, magrela, olhos garços, parece a do Prefab Sprout, mais bonita. Evangélica e, dizem, desafina, dois horrores. Goodbye Lucille #1, a única canção de amor inteligente já. Clorótica, diáfana, lembra também a Luísa d’O Primo Basílio, elenco mental todo, eu meio Julião Zuzarte, inclusive a caspa. Mora em Botafogo. Alessandra diz que Sara esqueceu quem sou.

– Bem, então ela não te achou assim tão feio – consola Tadeu.

Quem é essa Alessandra aqui no diário? O A. não lembra. Hipermnésia paumolou, nada demais aos trinta-e-nove/quarenta. É evidentemente amiga ou, ao menos, colega da secundária ou terciária. Não vou correr atrás disso, tenho de terminar meu estudo sobre formicidas no Brasil Império.

Dias depois – ou antes, não importa ✒ mentira, importa sim –, na estação ferroviária de Campo Grande, me, esquerda, apertam a barriga. Ninguém. Direita, costas quase, ela, Mariana. Resfriada, olhos miudinhos, lacrimando, boca em espasmo de espirro. Cada cada cada. Conversas, passatempos, cruzadinhas, vamos juntos. Ela adora cruzadinhas. ✒ Várias liberdades cronológicas: 08/06/2002, 04/07/2002 e 19/10/2002.

– Você é engraçado.

– Por engenho ou por ridículo? Provavelmente, a primeira ocorrência desse clichê pessoal. E a resposta é os dois.

Tão tão tão. Quatro sílabas, as mais difíceis. Sniff, sniff, buá, buá. Fresco.

– Vamos, diz alguma coisa positiva pra eu não ficar deprimida.

{[(EU TE AMO!)]} Sniff, sniff, buá, buá, blablablá.

–...A vida é rũi, mas um dia acaba.  ✒ Literatura melhora o traquejo social? Pouco, Wilde algo mais.

Sábado. 24/06/2002 Pelas 15:30, vou andando rumo à rodoviária de Campo Grande junto meu pai, mais tampinha que o Romário. Segundo governo FHC, colapso da microburguesia suburbana. Agora caixa na farmácia familiar em Brás de Pina turno noturno-madruga. Marx Decadência. Velhice. Força, dono de bar, esporro em quem bate no balcão, gravata nos arruaceiros, cadeirada nos marrentos, expulsa os acossadores de patos no flíper, víquim gnomo do Furão, cabeleira avermelhada puta, barbaça preta puta, bração brabo peludo puto, piru grosso que nem lingüiça FREUD, detesta todo mundo, detesta quem bebe, quem não bebe, detesta quem fuma, detesta quem faz barulho, detesta quem pede fiado, detesta festa, só gosta de planta e bicho, fora cavalo. Mayflower fez aguada na Praça Mauá. Agora tudo micha, tudo grisalho, flácido, pobre, fraco, ralo, feio, cada vez mais. Em 2001, o Skylab, o segundo, o derradeiro, o breve, decaído a biboca, queria que comprasse mercadoria atacado.  Não faria diferença.

Dez, onze, 1996, Seropédica, moleque, púbere, nem tinha tocado punheta (esse Pedro, do Méier, diz fazer espuma), ele contou sei lá pra quem, eu de intruso, ¿palco?, n’O Globo Che Guevara pifado na Bolívia e os velhinhos cagados na Santa Genoveva, ele como perdeu a virgindade, justo ele o fechadão. O pai portuga o enfiou, quinze, na cômbi da feira e o levou numa puta velha, feia, vermelhoconfusãocalorsuorfedorterror TRAUMA. FREUD Esse filhodaputa vai fazer isso comigo, vai, eu não consigo, vai repetir essa animalidade, ele detesta que eu seja goleiro, no filme chama atenção pros peitões, olhaolha (me deixe ver esse peitão em paz!), corrige minhas desmunhecadas (“mão de Roy” classifica a mãe, sempre mais), estranha meu amigo “viadinho” três anos mais velho (o filhodaputa vai pegar a vizinha da esquina, justo ela), eu sou muito delicado, aos doze, aos treze tentavam pôr, os mais velhos filhosdaputa, menina, bonita até, na minha fita, fugia apavorado, aos quinze queriam que comesse essa pretinha na casa do vizinho, sou muito delicado. Brigo sozinho contra dois, mas sou muito frágil, todo guenzo, essa escrotidão da macheza, essa escrotidão do para os outros, quero paz. Mas agora 1,78 e cresço ainda, ele nem 1,65, mais tampinha que o Romário. Desprezo. § todo Freud, mas a psico-história ainda não avançou o bastante para arriscarmos interpretações, faria uma comparação com a termodinâmica molecular, mas deixa pra lá, sniff, sniff, buá, buá.

– E então? O que você vai fazer da vida?

Roquestar cineasta cientista filósofo escritor ator pornô talk show host Álvaro Dos Passos Truffaut Pirandello Debussy Arcimboldo Joyce Tchekhov Penrose Steenwijck Beethoven Morrissey Gallagher Edward Norton Homero Boltzmann Vila-Niemeyer Roger Moore Schopenhauer Toulouse-Zola Aristóteles Indiana Kubrick Millôr Freire Seuraut Jô Soares Fox Mulder Macbeth dos Anjos Wilde Sonic Rimski-Polanski Figueiró Kierkegaard. Observar elencos barrocos. Sobre isso, explica-se a obsess VIDA·ALEGRIA·CRIAÇÃO·PAZ. Como falar? Como? Ahn? ¿? {[(      )]}

Muitas sílabas, até PAZ.

– Isso agora não me interessa...

– Tem de fazer dinheiro cedo. Não dá pra perder tempo.

Sim, como tu, Tio Bill Patinhas Rockrothschildfeller Onassis Safra Gates.

Que vou fazer da vida? Psicologia física jornalismo arquitetura filosofia engenhariadetelecomunicações engenhariapontinhopontinho geografia geologia letras sociologia astronomia cinema. Que vou fazer? ELE NÃO SABE RESPONDER ‘SSA PORRA ATÉ HOJE! Ser é muita coisa. Kierkegaard Eu sei o que não vou fazer, quer dizer, acho: medicina veterinária direito.

2º circuito na rodoviária. Que será que vai ter no comitê? Algo? Alguém?

3º circuito. Tão clara, tão castanho, tão liso, tão macia como?, tão linda, tão legal, tão tão tão cada cada cada.

4º. No caminho para a rodoviária, Marcelo, nariz arrebitado, cabelo arrepiado, me pergunta de bate-pronto filhadaputamente: Tá Faulkner essa cronologia, bróder! Peraê!

– Por que tu não dá em cima da Mariana?

O A. filhodaputa tá lembrando do futuro! 19/10/2002! Já me perdi se ‘ssa porra é fluxo de consciência linear ou qual caralha, não fiz letras. Vamos seguindo, pois, a essa altura, o que me interessa é meu artigo sobre formicidas no Brasil Império.

E como se faz isso? E ainda tenho de convencer essa filhadaputa a largar o namorado filhodaputa.

WIE ES EIGENTLICH GEWESEN IST!

1999, madrugada, cansado, sinistro, uns três anos ou já quase dez, estômago filhodaputa arde desde 1992, minha mãe, mão na minha testa, toca e canta para mim, inglês macarrônico, Peter Gabriel & Kate Bush ou Bobby McFerrin:

 

Don't give up you still have us

Don't give up we don't need much of anything

Don't give up ‘cause somewhere there's a place where we belong.”

 

Ain’ got no cash, ain’t got no style

Ain’t got no girl to make you smile

But don’t worry,

Be happy.

 

Don't Worry, Be Happy, reilêonica, é relaxante pacas, especialmente se tu está ansioso semiadormecido no sofá cinco e vrau prestes a ir prà escola com a mãe cantando o refrão com a mão na tua testa. Complexo de Édipo, cujo mito a mãe contou para o A. em criança. É uma mais que garantida fórmula ansiogênica. Ele quer matar o pai e assumir o Skylab. Mas não esta paz, pouca agora e sempre, outra coisa, outra falta, há muito tempo, isso já deu, mãe, adeus, tchau-tchau, outra mente, outro corpo, outra vida, alguém eu.

 

“Dreaming of the tenderness

The tremble in the hips

Of kissing Mary's lips”

 

Enfim, Tadeu, amigo pluriperrengues, alto e feio, pólo e djins. O A., não sendo muito alto nem, então, muito feio, é jovem e babaca o suficiente para não perceber o valor tático dum amigo alto e feio. Coxinha queimada Coelho Neto, cômbi genérica desatolada Vicente de Carvalho indo buscar videocassete, culto evangélico católico um, ateu o outro jovem Vila Isabel porque o amigo tecladista filhodaputa furou a perfórmance, Saara atrás de componentes eletrônicos pechincheiros, flíper fuleiro Madureira, Woodstock mirim filhodaputa na Praça do Canhão Realengo O Surto, Bidê ou Balde, Ira! &c., poema sobre trem no último parador. isso sim é metapoesia Amizade é isto: furada, bola-fora, fracasso, fiasco, programa-de-índio. Tão tocante!

A expressão, vocabularizada por maneirismo, programa de índio é duplamente preconceituosa, saiba ou não o A. Índio era como os zona-sulinos designavam pejorativamente os suburbanos, implicitando sua selvageria (cf. Rubem Fonseca), logo programa de índio é forma de diversão de suburbano, como farofada em praia ou ida a inauguração de comitê do Gilberto Palmares em Bangu em pleno sábado. A vocabularização por hífen, típica do A., reflete obsessão acumuladora de origem pequeno-burguesa-ultrassuburbanóide. Este § foi escrito em conformidade com o item 8.11.2 (“Responsabilidade social”) do edital de pesquisa 2024/02 da Fundação Leopold Trebitsch-Lincoln von Ranke.

Que será que vai ter no comitê? Algo? Alguém? A gente tem de ver a vida. Mary’s lips.

✒ E o O ciclista filhodaputa tem de andar em zigue-zague. ✒ Anacronismo estilístico, outro; isso foi em 2004, acho.

Ponto final, andamos pelas quadraturas de Bangu, lado capitalista. ✒ Todo o subúrbio ferroviário é Berlim 1961–1989, exceto Paciência e Tancredo Neves, onde não tem nada, nem boi, e não precisa ter muro. O lado capitalista quase sempre é o sul. Cf. GLOMMER, F.-W. “Stadplanung in Rio de Janeiro: neuere Sichten aus Voerster und Ulbricht”. Neupreußische Zeitschrift für Wirtschaftswissenschaft und Welteroberungspflicht, 1962.

Opa, taí o comitê.

É?

É: uma caminhonete troa música de campanha, nada memorável, nada cativante como

 

Rio quarenta graus,

Pra senador, quareeeeeeenta!

É Saturnino, meu irmão!

Vote certo, não inventa.

 

Jerominho, dois dois cinco dois dois quatro.

 

 

Para prefeito é Paulo Memória,

É Memória na cabeça.

É dezessete!

É dezessete, é dezessete!

✒ Só um hipermnésico lembra dessa porcaria, gravada em banheiro de rodoviária.

 

 

Pra ficar legal,

É!

A gente quer o melhor,

Sérgio Cabraaaal.

✒ Minha favorita! E olha que odeio samba.

 

Lula lá,

Brilha uma estrela.

Lula lá,

Cresce a esperança.

A No Surprises dos djíngols eleitorais, Lulallaby.

 

EY-EY-eymael!

O de mo cra ta - cris tão.

 

A mulher continua revolvendo o panelão. Nenhuma Melinasaramariana, nenhuma garota, ninguém da nossa idade. Mas a principal falta é um vira-lata aguando. Gilberto Palmares é um belo dum filhodaputa.

– Sei lá. Bora esperar um cadinho.

O filhadaputa aqui tá esperando. Cadê o Artur William, esse filhodaputa desgraçado arrombado? ✒ Mora na Freguesia. Ficamos estatelados manjando a intimidante intimiância desses filhosdaputa? Insistiu que, além de maneiro, era rega-bofe. A fome começa a apertar. Já me sinto convertido no vira-lata filhodaputa fantasmal à espera da xepa. Que situação. Programa-de-índio total filhodaputa.

Foda-se ‘ssa porra. Bora ralar peito.

– Quantas pessoas tinha?

– Umas trinta.

– Que isso! É muito.

Não sirvo, pai, pra PM estatístico de protestos, xous e estádios. Isso sem dúvida é do teu agrado e ambos ufa!

– Bora comer pitsa!

– Esfirra! Habib’s.

– West Shopping?

– West Shopping!

– Bora!

– Bora!

Mal dá pra pagar a passagem de volta de cada um.

– Xi....

– Babou...

Eu sabia, já sabia, bem criancinha, eu sabia: ser adolescente é uma merda filhadaputa. Um dia isto vai embora e eu volto a ficar bom. Um dia, um dia, um dia, é só esperar, um dia... Vida filhadaputa. ✒ Não, não, não... Calma. Deixe-me recordar:

“– Vamos, diz alguma coisa positiva pra eu não ficar deprimida.

– ...A vida é rũi, mas um dia acaba.”

Sim e já já acaba.  Você não costumava dobrar tua idade desdos três?

Ah! Seria tão adequado, como desfecho, se você tivesse seguido, sozinho, pelas folhas das amendoeiras-da-índia  caem em agosto, agora, cantando, que essa ao menos você cantava bem:

 

A heart that's full up like a landfill

 

Mas isso seria outra coisa e não wie es eigentlich gewesen ist.  rank Ranke Foi difícil  para nós dois. ✒ Muitas sílabas.  E muito ficou por. Ninguém conhece ninguém. ✒ Aquela vez no 996?  Outro dia, quem sabe? Quem sabe?Dont worry / Be happy.

E ai eiou o áao.

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