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A Santa Aliança Oligárquica ou Peão sem Casa

  • Foto do escritor: Álvaro Figueiró
    Álvaro Figueiró
  • 21 de fev.
  • 9 min de leitura

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Ouça – as coisas estão indo muito rápido.

Pra baixo.

Mas nos últimos dias o plano geral ficou claro. Claro como uma planta heliográfica do Papa-léguas.

Exceto acaso se trate dum despiste genial.

A gente aqui acha que entende a História e eles lá acham que a guiam.

Ainda assim...

Ouça – eu disse que a guerra na Ucrânia era o conflito que definiria a geração, talvez o século – o plano geral é o seguinte: Trump quer implodir a hegemonia americana.

Enfie o teu antiamericanismo no cu.

Obrigado.

Eu não falei que com ele a hegemonia americana vai implodir. Ele, Trump, é sujeito. Ele quer.

E ele vai.

Ele é também muitos. Ou antes, os poucos com muito.

Fins de hegemonia quase sempre significaram guerra e outra hegemonia. Às vezes significaram multipolarismo e guerras e guerras e guerras e guerras e guerras e outra hegemonia.

Contraexemplo?

Obrigado.

 

🔵🔶🔵🔶🔵🔶🔵

 

Trump não só declarou Blitzkrieg contra o próprio Governo Federal, com nomeações que fazem a prefeitura de Belford Roxo luzir nos rânquins da Transparência Internacional, mas também contra a Aliança Atlântica. Assumiu já falando em garfar a Groenlândia e até o irmão tímido mas simpático, o Canadá. Trump sempre foi o Boça do Hermes e Renato interpretando um cartum do ugly American, então algum benevolente/desmiolente poderia supor factóide para distrair o público sobre o facão interno. Contudo, na recente Conferência de Segurança de Munique, o alto escalão também só escrotizou. Peter Hegseth, à frente do Pentágono após anos de macholento comando militar na Fox News e tatuagem Deus Vult (em Fraktur, na klar! que os cruzados, ontem e hoje, patolas firmes nas espadas, não iriam escrever com essas letras rococós cheias das rabiolas que tu vê hoje em padaria metida) VOU RECOMEÇAR A FRASE: Peter Hegseth, esse aí, esculachou os parceiros da Otan por não cumprirem com o piso dos gastos e ameaçou de reduzir as tropas americanas. Outra vez o desmiolente/mongoleso poderia supor pedala-robinho pra fazer a europeuzada gastar mais na casa-de-fogos.[1] Mas o vice-presidente J. D. Vance. paladino da macholência anglo-saxã, fuça de bebê-chorão, marido de indiana indiana e viciado em delineador emo – foi além. Dedurou que o vilão não é a Rússia nem a China, mas “the enemy within” e, Musk sem gesto “« '' „duvidoso“ '' »”, flutuou chamego prà Ação pela Alemanha, partido que não é nazista no mesmo sentido que Hitler não era nazista em 1919 e cuja líder é uma lésbica casada com singalesa.

E é aqui que a porca torce o rabo, a jurupoca pia e a cobra fuma.

Há poucos dias, Trump chamou Zelenskyy de ditador, exigiu novas eleições, debochou (que nem Bolsolula) da sua carreira como comediante (falou o tipo que demitia num reality show), arranjou reunião na capital saudita só combinando com os russos e os xeiques. Parece que o Gorila Pede-Emprestado quer roubar a vaga de Dmitry Peskov, o porta-voz de Putin, ou ingressar no time jornalístico do Brasil 247. O teleprômpter do Kremlin só faltou transmitir, psiu, xinga o cara de nazista/banderista; só não zoa de baixinho, que aí é ursada. XOXO. ␄ Por outro lado, a doçura da Cacatua Laranja para com o Vlad Veneno e a Rude Rússia é diabética para qualquer um que tenha estado no Sistema Solar nos últimos anos. Os úlitmos anos são vários. Plena Era “Evil Empire” Reagan, Trump criticava a gastança com a Otan. Ano passado, falou que, se os russos invadissem a Europa, é isso aí. (¿Por que não, tchurma, em 2026 uma chapa Rui Costa Pimenta–Trump?!) Há quem diga que Moscou tem um kompromat contra Trump – o nosso dossiê-escândalo, aqueles que sacavam nos debates eleitorais – ou que até seja agente russo desduma visita em 1987. O mais provável é que, primeiro, a nomenclatura soviética e, depois, a oligarquia russa lhe abriram os olhos, primeiro, para as delícias do depotismo político e, depois, do depotismo político bilionário.  

É piada pensar e mais ainda tratar como superpotência a Rússia, que tem pib ≈ Itália, pop > 2 It. . Os superpoderes russos são uma das maiores cascatas da cascateira história geopolítica. Helmut Schmidt esbofeteou a União Soviética como “Obervolta mit Atomraketen”, “Alto Volta com míssies atômicos”. Nem a reinvenção putinista do pais como baluarte dos valores tradicionais (cristã, branca, hétero, testosterônica) convence alguém. Convence? O superpoder russo é e sempre foi o superpoder dos superpoderosos, boiardo, tsar, Presidium, silovikí, máfia, oligarquia. É isso que instiga muita elite ocidental.

A essa altura, está claro que que boa parte dos republicanos, renascidos no cristo do Make America Great Again(st), querem dar o pinote na Otan. O líder dos deputados confessou “no appetite” para mais auxílio à Ucrânia – Appetite for Destruction! Welcome to the jungle! Trump estaria assim só explorando o merdelê russo-ucraniano para topar uma celeuma braba e justificar a saída da aliança (seja recusa às negociações de paz pela Ucrânia ou Europa, teimosia de Zelensky em ceder as terras-raras, europeus caloteiros, zoas sobre a sua peruca-cacatua, qualquer pretexto). 

Por quê?

O desengajamento da Europa não é para os Estados Unidos focarem no Indo-Pacífico e conter a China – afinal, a Rússia não é lá grandes merdas e os europeus não são nenhuns mortos de fome, poderiam, oquei, se virar. Tampouco é tentativa de desmonte controlado do Século Americano nos termos ianques. Todas as medidas do Calígula de Fraldão afrontam aliados, afagam inimigos e afogam americanos. As tarifas de 10% contra a China seriam inferiores aos 25% contra os vizinhos do Nafta. A única broderagem, doe a quem doer, tamos juntos até o fim, é com Israel. E, apesar dos fundamentalistas que criaram o Direito Internacional Público Bíblico apesar dos parças neonázis que querem o Holocausto não havido, a idéia do enrosco é também comprometer os Estados Unidos a ponto de provocar um ataque terrorista brabo e assim legitimar o estado-de-sítio, um Gran Circus Reichstag Norte-Americano.

MENE, MENE. TEQUEL. PARSIM.

Da mesma forma que as sociedades, similares e mais abertas, da Ucrânia e de Taiuã ameaçam, por comparação, os regimes da Rússia e da China, o autoritarismo almejado agora nos Estados Unidos terá como maior rival a democracia liberal na Europa. Escreva o que digo: os próximos meses serão de Maga MMA vs Europe. As elites americanas não querem mais o Consenso de Washington, a Nova Ordem Mundial; elas querem uma Santa Aliança Oligárquica. Os russos precisam da oligarquia, porque nunca foram, como os latino-americanos, capazes de criar um modelo que não fosse superexplorador. A nomenclatura chinesa sabe que o país já atingiu o progresso econômico e social em que as classes médias começam a exigir participação nos rumos do governo. (Calha de ascenção chinesa, como a nipônica, ser balão-japonês.) Os zilhardários americanos querem continuar sobre a carniça – nem que a carniça seja a do próprio país.

Então o plano geral Acme é este, meus caros coiós: choque e pavor, dentro e fora – colapsar rápido não só o Governo nos Estados Unidos, mas também a ordem internacional. Para garantir o desmonte da democracia americana, Trump precisa fazer a democracia tombar também na Europa e, para isso, a Rússia é vital, ou antes, mortal. Daí, numa faroestelestenortessulglobal, ela cai por toda a parte. Talvez reste alguma em Tuvalu ou num cantão suíço. 

Mas Tuvalu afunda em dez ou vinte anos – literalmente.

 

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Oh, animal, claro que não é o Trump.

Eu era ótimo aluno em Estudos Sociais.

Nada é escondido.

Tudo é escrachado.

Na posse, não só os bitebilionários estavam no quentinho, como o presida lamentou que os ricaços estivessem perdendo suas casas nos incêndios californianos. De lado de fora, a lágrima congela sob a pala rubrobonezeira. A menção a uma nova Era Dourada evoca, até deste lado da Guanabara, Rockfeller, J. P. Morgan, trustes, pau nos operários, dúvidas se os finlandeses são brancos mesmo, desastres industriais cecildemilescos.

O delírio anarcoliberal conseguiu convencer até parte da pobralhada que só e tão-só o poder estatal é perverso enquanto os uberbilionários são dotados ursinhocarinhosamente de bom coração – o inverso do predicado liberal clássico sobre a rũindade, escrotidão e filhadaputice humana.

Fala, texto, tuíte, entre os bitebilionários é consistente a defesa dum futuro, no melhor dos casos, autoritário. Sobretudo, nos seus textos, articulam fantasias de Darth Vader no LSD.[2] Thiel, Musk, Andreessen, Bezos, Zuckerberg, Yarvin são todos, uns mais, uns menos, consumidos pela mesma idéia de sociedade certa e bela que andou na cabeça do Dzerjinski, Pol Pot, Jim Jones. Na moral, acho que toda utopia, no fundo, é fascista. Eles não estão interessados em ficarem mais ricos. Eles querem ter mais poder, dâh. O que, nas atuais circunstâncias, basicamente significa querer te ver sofrendo. À beça. É uma mundivisão sádica. Sadismo é poder e prazer. Fiel à nerdice boba original, Bill Gates, no fim, fica sendo o cara sem-jeito legal... (Enfim o Windows se justifica...)

O que eles querem não importa: a Terra como bantustão de Marte; o Código Deuteronômio Civil; a Solução Finalíssima; estamentos onde cada qual sabe seu lugar, livre enfim da ânsia da escolha, inclusive cor e tecido da roupa; a razão artificial suplantando a estupidez pública; a cidadania conforme a Escala de von Luschan (mais tradicional que a de Fitzpatrick); o desejo de não deixarem a peteca cair num momento quando o caminho adiante é a corda-bamba; a moeda livre de bancos centrais; megalópolis oceânicas onde tudo, tudo, tudo, tudinho, isso aí mermo que tu pensou, tudo, tudo é permitido; um lugarzinho para chamar de unser Reich; um Governo eficiente; um país onde seja fácil fazer negócios; o transumanismo para todos; o transumanismo para poucos; o entretenimento de ter cem mil canais holográficos transmitindo, todo dia o dia todo, brigas de mendigo, aleijado, doente, criança, velho; e talvez mesmo um nobre sentimento, um só, a aniquilação de tudo e todos, se possível do Cosmos.

E, objetivamente, talvez nem eles saibam direito o que querem – além de mais poder e mais e mais.

O que eles querem não importa: tudo o que importa é que você não tenha que querer xongas.

Além do esquema-pirâmide que é, um Jogo do Tigrinho menos divertido, as criptomoedas pretendem sabotar a posição do dólar. O paradoxo é só aparente.

Nem sempre as elites são conservadoras. Quando convém, elas criam furdúncio, Mao Tsé-Tung que o diga.

A desdolarização vai lascar sim com muita gente, até com os milionários, mas, pros multizilhardários, tanto faz, tanto fez. Eles têm jóias, pinturas, vasos, manuscritos, minas, gemas, a Jules Rimet, iates, aviões, terras, segredos, dados, ouro, prata, platina, estátuas, antigüidades, tigres-siberianos. Dólar é papel-higiênico-mabel. Dólar é coisa de pobre.

Imagine um mundo sem milionários.

Um mundo onde geral ou esmola pra comer ou é trilionário.

É isso.

À roda do planeta, outros sonham seus sonhos multiculturais de opressão: a xariá global; a expulsão dessa gentalha aqui; a revanche contra os pimpões de nariz chato e muito gado; o genocídio definitivo dos capiaus de nariz afilado e enxada folgada; a implosão de todas as mesquitas que sujam o solo sagrado dos deuses verdadeiros com quinze braços e tromba de elefante; mais nenhum gringo perto com câmera e fuzil enchendo o saco pra não raspar fora o xibiu da nossa mulherada; a barbatana de tubarão num preço justo; Effacer le tableux; Nož, žica, Srebrenica; Allahu akbar; From river to sea; enfim a desforra daquela sacanagem que esses aí ó fizeram contra nós em mil e trezentos e caralhada.

Grupos oprimidos também devem ter lá sua utopia fascista. Que ninguém vê, bem, porque são os grupos oprimidos. O verdadeiro privilégio do lugar de fala é o que vem do ódio desabrido. A vera voz vem do poço.

O mundo ficou doido. Entre os gestos máximos de rebeldia, rejeitar vacina e abraçar politeísmo. Preces pra pneus, punhos pra Cuba. Tamos fodidos. E doidos. Liberais celebram o Brexit, trans aplaudem Putin, MST aposta em Maduro.

Quem vai salvar a democracia? ¿Os simpósios por uma história oral decolonial? ¿A passeata da Une? (¿Aliás, cadê ela?) ¿O caranaval do Simas? ¿A linguagem neutra de gênero? ¿A China? ¿A esperança, que temos de ter nessa onda multipolar, a esperança, como tuítou essa Letícia Cesarino? (¿Existe coisa mais burra que intelectual latino-americano?)

A ESPERANÇA! A mente vencendo o caos global pela ESPERANÇA!

Farsantes...

Se não talvez os banqueiros, decerto os bilionários latino-americanos, livres do imperialismo ianque-estadunidense, finalmente embarcarão num projeto de distribuição de renda e desenvolvimento social, o que Washington NUNCA OS DEIXOU FAZER DESDE 1492.

Ignore o anacronismo.

Obrigado.

Lamento informar, latrino-americano, tu importa pouquíssimo, um pouco mais que o africano no esquema geral das coisas. Talvez o africano logo importe mais, visto ser mais pobre e, quem sabe?, ter mais riquezas minerais. Talvez a esperança seja isso: ser mais rico e também mais pobre que o outro.

Ouça.

Olhe – as coisas estão indo muito rápido.

A treva, a treva não da noite, a treva clara das brasas e cinzas, envolve este bibelô bobo de globo.

E pior ainda: amor desarrolhado, nunca vertido, evaporado, borra-gosma azeda, amarga.

A mente cata uma idéia e não acha.

O coração cata uma idéia e não acha.

O piru cata uma idéia e acha. Mas não, não, outra bronha não ajuda, não.

O estômago cata um idéia e acha. E a idéia brilha: tem uma luz no fim do túnel!

Uma luz no fim do túnel! Esperança!

Caralho! ’Ta que pariu!

Ai meu (nem chato nem afilado) nariz...

O túnel era pintado.

 



[1] Edward Luttwak, todavia, parece conceber Trump como grande estrategista: https://unherd.com/2024/11/trumps-epic-second-act/


[2] Veja o artigo tecnoquiliástico de Thiel, “A time for truth and reconciliation”: https://www.ft.com/content/a46cb128-1f74-4621-ab0b-242a76583105. Se há alguma justificativa para a taxação das megafortunas é o nível de insanidade só comparável com o patmar de poder e riqueza dessas pessoas. Se é para delirar assim deem uma cadeira de filosofia deleuziana e tá tudo bem.

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