Édouard Levé
- Álvaro Figueiró
- 20 de nov. de 2024
- 11 min de leitura

Fora os arrasa-quarteirões, arte quase sempre pega por ramo ou por raspo. Estava saibernavegando o rol de artistas suicidas na Wikipédia, encafifei com o nome, escritor e fotógrafo, 1965–2007. Quarenta e dois/um anos. Idade já bem bem bem bem BEM feia pro suicídio (trinta, o certo; vinte, o belo). Até aí tudo blá, o nome talvez não. Mas, tanto clique nesta clicoesfera, cliquei no linque, lincou aqui um clique: a foto do 1965escritor-fotógrafo-suicida2007. Loiro olhiazul embora, certa semelhança comigo me desconcertou – os tristes olhos afundados olheirudos, a longa oval cara torta. Por mais batoré o duplo, ou antes, o sésqui, o olhar baba. Ninguém é mais narcisista que o feio.
Por conseguinte, coé desse maluco?
E, assim, li a obra completa, pouca.
Arriscando um perfil sociológico, pra satisfazer ao público sadozhdanovista, dá pra dizer que Édouard Levé pertenceu à constelação plei perdido na vida que decidiu virar artista porque é um estàtuszinho a mais: Neuilly-sur-Seine (o Leblon francês), colégio católico Stanislas (o São Bento francês), École Supérieure des Sciences Économiques et Commerciales (o IBMEC francês), mochilão à motoca, pintura entre 1991 e 1996, galeria do tio, vende algumas, guarda outras, queima o resto, suicídio de amigo de adolescência (pápi presida duma Francebrás), depressão, escrita e foto, suisuicídio.
Em vida, entre 2002 e 2007, publicou apenas quatro livros de literatura – digo literatura, pois nenhum gruda bem a etiqueta de romance, conto ou ensaio: Œuvres, Journal, Autoportrait e Suicide. Todos se regem por fórmula, clara. Œuvres expõe 533 propostas para obras de arte em múltiplas mídias em múltiplos graus de jeguialidade (algumas das quais Levé viria a realizar).[1] Journal reproduz as seções dos periódicos suprimindo datas, nomes e lugares. Autoportrait colige curtas declarações sobre o próprio autor. Suicide relembra curtos episódios sobre o tal amigo suicida riquinho. Postumamente saiu a coletânea Inédits, que, como não poderia deixar de ser, é mais heterogênea.
O projeto de Levé é a abstração, mas sem assinatura. É passar o pano no copo que saiu do enxágue, rodo no pára-brisa, lenço nos óculos; no limite, polir a prataria herdada.[2] Como o próprio declarou: “Mon modèle est l’absence de style.”[3] Além da aderência a fórmula, Levé tentou amputar as patas-pantufas estilísticas por quatro procedimentos: 1) a simplicidade sintática, semântica, léxica e retórica; 2) a recusa ao enredo; 3) a reiteração e os elencos; e 4) a manipulação do nome próprio. Desses procedimentos, o mais original é o quarto. Discorramos sobre eles, visto nem eu nem tu termos nada melhor pra fazer agorinha.
1. O francês talvez seja uma das línguas mais rígidas e incolores, entre outras coisas, por precoce codificação acadêmica; forte perspectiva centrípeta de nação; gosto pela concisão e pela parataxe; e bissecular condição de língua-franca. O bafafá que causou Céline, com sua escrita de gíria, solecismo e neologismo, explica-se, em boa parte, pela língua francesa ter sido flambada, gratinada, purerizada, quarentenada, enfardada, dicionarizada em glace à l’eau au goût chayotte. Em Levé, contudo, a busca pelo simples, menos que opção conservadora, devia ser reação ao francês pós-guerra/pós-moderno/pós-cérebro, enfim avassalado pela Wehrweltmachtanschauung do bololô metafísico teuto-germano-echt-alemão que, desdo XIX, fez os hexagonais se sentirem cones de chapéu de burro por falarem as coisas bem bê-á-bá e serem sempre invadidos. Levé tampouco gostava da poesia francesa do século XX, veja você, por causa do uso de metáfora.[4] Logo portanto ∴ → quod erat demonstrandum Q. E. D. C. Q. D. ∎// Ele provavelmente sentiria náusea ou, ao menos, gastura ou, quem sabe?, só ódio perante um texto neobarroco[5] como este (mas ele está longe e morto, sua opinião e sua emoção não importam).
2–3. Recusa ao enredo, reiteração e elencos são procedimentos já rotineiros, pintando em autores vários como Queneau, Calvino, Pérec, Cortázar, Barthelme, Bernhard, e recuam, pelo menos, a Beckett, isso se não quisermos Sterne ou mesmo Rabelais. Contudo, Levé os emprega de maneira estruturante em quase toda a sua obra literária. Œuvres e Autoportrait leem-se como catálogos.
4. O apagamento estilístico pelos procedimentos mais tradicionais acaba por realçar em Levé o aspecto mais original, a manipulação do nome próprio, que ocorre de três maneiras: a) neutralização (conversão a substantivo comum e a pronome), b) isolamento (listas) e c) estranhamento (homonímia). a) A neutralização pelo substantivo comum estrutura Journal; a neutralização pelo pronome, Autoportrait, onde se reitera o je, e Suicide, onde se reitera o tu, como sempre é referido o amigo riquinho.[6] b) O isolamento é a base de muitas propostas em Œuvres: p. ex., um painel com o nome de todos os artistas conhecidos pelo autor ou fotografias de cidades francesas que também são substantivos comuns. Mas Levé não se contenta em propor; ele L.I.S.T.A lista as 739 cidades francesas que achou (não as contei, mas, se mentiu, foi pouco) e preenche oito páginas, de Aballéa a Zubarán, com nomes dos artistas. Em Autoportrait, a técnica, não tão extrema, aparece em repertórios de países visitados, fotógrafos e escritores admirados, filmes favoritos, anagramas do próprio nome. c) Por fim, o estranhamento aparece mais na obra fotográfica que na literária – a recusa à narrativa não favorece imaginar os embates políticos entre Karl Marx e Elvis Presley, moradores da Armênia (bairro paulistano) e rivais vizinhos de box que vende produtos da Apple (a líder global em bolinha-de-queijo).[7] Em Œuvres, a proposta Nº 20 quer fotografar as cidadezinhas americanas que têm epônimas ilustres (Paris, Texas!); a Nº 77, xarás de celebridades. Levé pegou ambas e fez um clique só.
Onde Levé mais sucede no apagamento estilístico é em Journal. Lê-se como colagem das matérias mais neutras, mais neutralizadas ainda pela supressão dos nomes próprios. Ainda assim, num caso ou outro, o aluno sabido em Estudos Sociais saberá dar nome aos ______ (peixe-█████) e observe o leitor malandro que um ______ tem ______ (palavra repetida) sim:
“Un écrivain célèbre est condamné à dix mille unités monétaires d’amende par un tribunal” (p. 35)
“Sa femme, son fils, ses petits-enfants, son arrière-petite-fille et toute as famille ont la douleur de faire part du décès d’un docteur en médecine, chef de service honoraire d’un centre hospitalier, survenu dans sa quatre-vingtquatorzième année. La cérémonie religieuse sera célébrée dans l’église de son village natal.” (p. 69)
“Un réalisateur célèbre meurt d’une pneumonie à l’âge de quatre-vingtquinze ans à son domicile. Né dans un pays, il devient journaliste dans un autre pays, avant de fuir le régime dictatorial qui s’y met en place. Réfugié à l’étranger, il tourne Mauvaise pente avec une star locale, puis émigre dans le pays qui abrite les plus importants studios cinématographiques du monde. On lui doit vingt-six films dont plusieurs classiques.” (p. 94)
“Un sondage réalisé le jour des élections législatives indique qu’un Premier ministre aurait été élu au premier tour avec 50 % des voix si le scrutin s’était déroulé à cette date. La réussite du parti qu’il soutient le place dans une situation idéale : les élections législatives sont considérées comme la répétition générale de l’élection présidentielle. En quelques mois, le Premier ministre a pris en main les affaires du pays, profitant des absences du président, affaibli par l’alcool. Il a mené jusqu’à présent une carrière hétéroclite sur laquelle planent des zones d’ombre. Il commence dans les services secrets par une mission de plusieurs années à l’étranger, dont il n’a jamais rien révélé publiquement.” (p. 16)
Como fotógrafo, Levé obteve efeito similar de neutralização na série Pornographie. No lugar do noticiário blasê, arreganhos sexuais, certas poses no lustre acrobático da putaria XXX$$$ industrial; modelos, porém, completamente vestidos nas mais contralibidinais quotidianas roupas-sociais. Até a iluminação é desestilizada. É tão séxi quanto a transa das lesmas. Na mesma vaibe, criou a série Rugby, com resultados estéticos mais interessantes, talvez por eu não ser um grande consumidor de râgbi.
Embora Œuvres seja mais criativo e surpreendente, pelo efeito cumulativo o livro mais incoerentemente coeso é Autoportrait.[8] O texto todo é uma coletânea de petits faits vrais sobre o próprio autor, tipo um daqueles cadernos de questionário que, 1995, 96, nos (meninos e meninas) punham (meninas) para reponder, só que agora intelectualmente expandido a incluir se gostamos de cinema abstrato e de guarda-chuvas ou se, além do beijo de língua, temos pendores pedófilos ou somos suingueiros. Escrita simples, frases quase sempre iniciadas por “je”, pouca hipotaxe, retórica nula, tudo isso produz um estilo redação escola de idiomas nível A 2.1:
“Je bois de l’eau. Je ne bois pas de limonade. Je bois du Coca-Cola. Je ne bois pas de bière. Je bois du vin rouge en mangeant, et des vins blancs doux sans manger.” (p. 69)
“Je n’utilise pas de parapluie.” (p. 54)
“Je ne mens pas.” (p. 40)
“Je crois difficilement les hommes qui disent n’avoir jamais couché avec une prostituée.” (p. 34)
“La scie musicale me déprime plus que l’accordéon, mais moins que les clowns. Le cirque traditionnel me revulse plus que le patinage artistique. J’arrive à ricaner de la nage synchronisée, mais pas du patinage artistique. Au curling, le balayeur me fait rire.” (p. 68)
“Il m’est arrivé de marcher sur un râteau et de recevoir le manche sur le visage.” (p. 78)
“Je regrette qu’il n’y ait pas de toboggans pour adultes.” (p. 82)
“À Joyce qui écrit des choses banales avec des mots extraordinaires, je préfère Raymond Roussel qui écrit des choses invraisemblables avec des mots communs.” (p. 34)
“Je me méfie des textes intraduisibles.” (p. 78)
“J’apprécie la simplicité de la langue biblique.” (p. 79)
“J’aimerais écrire dans une langue qui ne me soit pas propre.” (p. 79)
“Je n’ai pas de penchant pédophile.” (p. 25)
O resultado é tal que, após a infomontoeira, ainda assim ficamos com a impressão de que não conhecemos xongas sobre o sujeito. Pela augmentatio ad absurdum, o anedotário de Autoportrait nega um dos recursos mais eficientes do romance, sobretudo após o realismo: as pinceladas rápidas para fixar um personagem (Eça de Queirós era craque nessa técnica, que vive a flertar com o estereótipo e a caricatura). E por mais que formulemos perguntas pertinentes que ficaram por responder – usava cuecas ao dormir? levantava ou abaixava a cabeça ao rir? bebia de canudinho? gostava de frutas melequentas? –, a verdade emergente, o mérito de Autoportrait, é que se pode enciclopedar alguém e a pessoa, por trás de todos os fatos, continua enigmática. Zeral sabe porra-nenhuma sobre nada nem ninguém – nunca. (Esse pensamento travisseiral, de certa forma, tenta me consolar da larga e longa desconexão. A ausência presente – embora tenha sido sempre ausência ausente, tu ███████ que obviamente não me lê – despertou e desperta essa curiosidade única sobre essa mesquinharia que é uma pessoa, tantos tais metros cúbicos, só trezentos–quinhentos centímetros cúbicos essenciais. Você sonha em cores ou em preto-e-branco? Há quanto tempo não vê uma joaninha? Tem medo de quê? Conhece das paisagens de Van der Naer? Sons periódicos te irritam? Como são teus pais? Em criança, você gostava do cheiro crepuscular do carro-fumacê? O que você acha de Nabokov detestar itálicos para representar “the protagonist's cloudburst of thought”? Nem mesmo essas expressões de intimidade que não costumam ter nada de íntimo, as caras e bocas do gozo, dizem lá muito...)
Não sei direito o que Levé quis comunicar na literatura e na fotografia – se é que ele lá mermo sabia bem (f = 0,92). Entre os traços do pós-modernismo estariam, martelam-nos, a metatextualidade, a referência, a paródia e a ironia, truques que os trogloditas (arqueologia verbal) devem ter praticado, discutido e teorizado nas suas vernissagens na Galeria Lascaux+Altamira enquanto degustavam coquetéis de amanita e canapés de mamute. Seja lá como for, com ou sem metáfora pré-homérica, muito em Levé pode ser entendido como ready-made submetido a uma matriz simples de transformação (Journal) ou mesmo uma mera proposta de ready-made submetido a uma matriz simples de transformação (p. ex., copiar quadros famosos conservando só as partes em verde, disparar um revólver num romance e montar um texto usando apenas as palavras extintas pelo buraco da bala[9]). Um dos tórridos queima-mufas para os artistas do século XX foi dispensar o gênio romântico e criar sem depender de inspiração nem, de preferência, dor-de-corno, donde uns, menos burros, foram pelo formalismo, outros pelo clichê confundido como a Idéia do Bem ( ________1, ________2, ⋯ ________n ). Em Levé costuma haver formalização do clichê (mas sem descambar na pop art[10]) e, no caso de Autoportrait, a formalização do clichê incorpora-se à exploração pessoal. Há nele também certo vezo absurdista, embora raramente o efeito seja cômico. Vimos que preferia Roussel a Joyce. Por vezes, os textos são tão-só instruções para o trivial, como o rol em Abécédaire: tourisme expérimental[11] (observe o leitor ________ a presença do nome próprio e uma alusão paródica ao procedimento serial por excelência, o dodecafonismo):
“Dodécatourisme
Formule touristique élaborée à partir du nombre 12 (douze) :
prendre un train un 12 décembre à 12 h 12 (en descendre au douzième arrêt)
passer ses vacances dans l’Aveyron [departamento francês Nº 12]
marcher (et nager) le long du douzième parallèle
explorer systématiquement les chambres 12 des hotels
entreprendre un tour du monde avec 12 € ($, £…) en poche.” (p. 67)
“Expédition au K2
Explorer méthodiquement la portion d’ailleurs enclos dans le carré « K, 2 » d’un plan ou d’une carte. Profiter au mieux des ressources culturelles, gastronomiques et estaminologiques qu’il recèle.” (p. 68)
“Hypotourisme
Faire l’expérience du manque en voyage. Partir trop peu de temps, avec un budget ric-rac, pour un ailleurs aux charmes chiches dont on maîtrise mal la langue.” (p. 70)
“Monodie
Explorer systématiquement un type unique de rues que l’on est sûr de trouver partout dans le monde. Par exemple les… « Grand-rue », « rue Principale », « Main Street », « High Street », « Hauptstrasse », « Via Principale », « Calle Mayor », « Lang Gade », « Jalo Katu », « Povisok Ulica », « Magas Utca », « Här Straeti », « N’Dal Hystryd », « Strada Maestra », « Hoofdstraat », …” (p. 71)
“Toutour n.m.
Découverte des ailleurs qui portent un nom de chien. V. Labrador, Terre-Neuve, Yorkshire, Pitbull, Rottweiler, Mirza (Rép. du Salvador), etc.” (p. 75)
“Néotourisme
Courir les lieux du monde qui se vantent d’être nouveaux : Terre-Neuve, la Nouvelle-Zélande, New York, Neudorf…” (p. 76)
Menções a suicídio, depressão, tratamento psicológico e -átrico são freqüentes em Levé. Dez dias após entregar Suicide aos editores, suicidou-se. Mas o livro tampouco soa despedida e a única mensagem parece ser que as pessoas se suicidam e é isso aí, vida que segue, suicídios idem. A última frase de Autoportrait, ela sim, é suicidignativa: “Le plus beau jour de ma vie est peut-être passé.”
██████ ████ __________, Rosebud…
CONSUMER GUIDE
Whole Galaxy Arts, Crafts, Guns & Drugs Catalog
💣 ★✂☂☣
É genial? Não. (Œuvres me deixa em dúvida se ronda ali; Autoportrait, mais distante.)
Vale a pena ler? Talvez. (Depende de muitas coisas: p. ex., você será executado na cadeira-elétrica amanhã cedinho? Se sim, te sugeriria outra leitura ou talvez ainda um sorvete de doce-de-leite com cerejas e mascarpone em casquinha lambuzada de creme de pistache.)
Só serei executado na próxima semana e pelo Serasa. Que ler? Œuvres, Autoportrait e algumas peças de Inédits.
Fez bem em se suicidar? ______ (Welträtsel, Hänsel und Gretel, Welträtsel).
[1] Há aqui a patifaria metapoética similar à que fez a genialidade de Borges. Diversos contos do argentino consistem, escancaradamente, em apresentar uma idéia narrativa sem desenvolvê-la com todas as complicações. Aliás a obra Nº 1 é “Un livre décrit des œuvres dont l’auteur a eu l’idée, mais qu’il n’a pas réalisées.” p. 7.
[2] Um estudo muito rũi acerta, porém, no título: BOUYSSI, Nicolas. Esthétique du stéréotype: essai sur Édouard Levé. Paris: Presses Universitaires de France, 2011.
[3] LEVÉ, Édouard. Inédits. Paris: P.O.L., 2022, edição digital, p. 61.
[4] LEVÉ, Édouard. Inédits, p. 16.
[5] “Ce qui me déplaît dans le baroque : la virtuosité, la courbe, l’abondance, l’excès.” LEVÉ, Édouard. Inédits, p. 57.
[6] O tuteio ao longo de todo o romance – chamemos de tu lírico, recurso que a música pope generalizou – evoca Un homme qui dort, de Pérec, o único autor ligado à patotinha do Oulipo que Levé diz explicitamente admirar.
[7] Nabokov explorou esse procedimento, sobretudo em Ada or Ardor.
[8] LEVÉ, Édouard. Autoportrait. Paris: P.O.L., 2013, edição digital.
[9] LEVÉ, Édouard. Œuvres. Paris: P.O.L., 2022, edição digital, pp. 160-161, 189.
[10] Um exemplo marromenos do que poderia ser em literatura é The Joker’s Greatest Triumph de Barthelme e, a bem dizer, muita coisa dos contos de Rubem Fonseca das décadas de 1960 e 1970.
[11] LEVÉ, Édouard. Inédits, p 63-82.
Comments